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Nanã: O Poder da Feminilidade e da Ancestralidade na Cultura Afro-Brasileira

Imagem criada com IA

No Dia da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, celebrado em 25 de julho, reverenciamos a ancestralidade, a resistência e o poder das mulheres negras em nossa história. Um dia antes em que celebra-se Santa Ana, que no sincretismo com as religiôes de matriz africana representa Nanã.

O sincrestismo foi uma estratégia em que pessoas africanas escravizadas encontraram para poder continuar adorando seus Orixás sem sofrerem a perseguição colonizadora que proibia qualquer outra religião que não fosse a cristã. Desse modo, até os dias de hoje muitos Orixàs são comemorados no dia do santo católico associado a ele.

Nanã, também conhecida como Nanã Buruku ou Nanã Buruquê, é uma das mais antigas e respeitadas divindades do panteão afro-brasileiro. De origem iorubá e cultuada especialmente no candomblé e na umbanda, ela representa a ancestralidade, a sabedoria ancestral e o poder da terra úmida e primitiva — o barro de onde a vida se forma e para onde ela retorna.

Símbolo da maturidade feminina, Nanã é a grande mãe, senhora das águas paradas, dos pântanos e dos mistérios da vida e da morte. Seu domínio não está apenas na criação, mas também na transição, no ciclo da existência. Ela rege o nascimento — pois foi com o barro que moldou os corpos humanos — e também acolhe os mortos, conduzindo-os de volta ao seio da terra.

Sua figura é profundamente ligada ao poder da feminilidade ancestral, que não é frágil ou submissa, mas firme, sábia e serena. Nanã ensina que a força da mulher está na sua conexão com a natureza, com os ciclos da vida, e com a capacidade de nutrir, proteger e transformar. Em tempos em que o feminino é constantemente subestimado ou distorcido, Nanã ressurge como um arquétipo essencial de resistência, profundidade e dignidade.

Na cultura afro-brasileira, Nanã é a ponte entre passado e presente. Ela carrega os saberes antigos, as histórias contadas pelas mais velhas, os ensinamentos transmitidos através das gerações. O culto a Nanã é também um culto à ancestralidade — àqueles que vieram antes de nós e pavimentaram nossos caminhos com sacrifício, fé e sabedoria.

Vestida de roxo ou lilás, cores que simbolizam espiritualidade e mistério, Nanã não fala alto, mas sua presença é sentida com força. Ela nos convida ao silêncio, à escuta profunda e à reconexão com nossas raízes. Honrar Nanã é honrar nossas mães, avós, bisavós — é reconhecer que a identidade negra e a espiritualidade afro-brasileira são construídas sobre alicerces de resistência, amor e profundidade espiritual.

Celebrar o 25 de julho é também invocar Nanã, reconhecer que a força das mulheres negras está enraizada em saberes profundos, em práticas de cuidado e em lutas silenciosas e constantes. É lembrar que, como a lama que dá forma à vida, essas mulheres moldam o mundo com suas mãos, sua voz e sua presença.

Que neste dia, possamos honrar todas as Nanãs vivas entre nós — mães, avós, líderes, educadoras, parteiras, curandeiras, guerreiras da vida real — e reafirmar o compromisso com a valorização, o respeito e a justiça para as mulheres negras de ontem, hoje e sempre.

Em tempos de desconexão, Nanã nos chama de volta ao útero da terra, para lembrarmos quem somos e de onde viemos. Sua força é suave, mas imensa. É o feminino que cura, que acolhe, que transforma — e que jamais deve ser esquecido.

 
Por Rafaele Ribeiro
Colunista e membro do Instituto

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