Deitado ao lado da cama, ele sorri, me pedindo carinho.
O sorriso dele sempre me cativou; me sinto parte desse turbilhão que chamamos de “nós”.
Soltei as rédeas, pulei do penhasco das minhas certezas e torci para que, ao cair, não me machucasse, me machucarei.
Na noite, eu me despeço dele — dormindo e acordando ao seu lado, vou me despedindo, vou dando adeus.
Aquele gosto de ferrugem conhecida, mais um gole das suas próprias expectativas, negando o instinto animalesco que habitava.
Ao lado dele, vou me despedindo, dando adeus, guardando os sentimentos dentro de um cofre enferrujado e puído do tempo.
Vou me despedindo de mim, dele e de nós — e quem sabe, um dia, a gente se esbarre em alguma esquina pela ilha.
Não garanto, não prometo que serei o mesmo, e nem espero de você a mesma cordialidade.
A cada final, aprendemos um pouco mais — sobre os outros e, principalmente, sobre nós.
O almejado degrau: me despeço com ele ainda aqui, certo de que a única certeza é uma partida fria e nublada, ao som do mar, com o toque gélido das ondas em nossos pés.
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