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A insistência de escrever: escritas, espelhos e compartilhamentos

Imagem criada com IA

Como repito, de forma quase cansativa por aqui, estou saboreando as sensações de tentar voltar a fazer coisas que não fazia a muito tempo, como ter dor na barriga de tanto rir de piadas ruins ou conseguir estar com muitas pessoas juntas, socializar e tals.

Agora me vejo encarando o espelho. Gosto de sentir em mim as marcas de uma vida, recuerdos, semelhanças e mesmo assim saber que sou eu e não elas/eles, seres que me constituem, mas não são eu. Em cada dobrinha, cada olhar ou trejeito. A forma de dizer palavras, orientar e xingar. O incômodo complexo com o silêncio do outro. Cada ruga começando a fazer morada aqui nessa casa de carne e osso.

Nem sempre estas olhadinhas no espelho são boas e me fazem sentir bem. Me perceber me faz perceber que por muito tempo não olhei o espelho pensando em mim, mas no olhar dos outros sobre mim. Mesmo quando enfrentei, me via/vejo pendendo a pensar neste olhar que me define e me rouba de mim.

Isto não é sempre.

Embora eu esteja escrevendo isso em uma rede social que está centrada na imagem como centro de narrativas que nem sempre (quase nunca) condizem com as vidas fora da tela, ainda insisto em escrever. Tem sido essa mesmo a palavra: insistência.
Insisto comigo, com a sabotagem, com a grandiosidade dos pensamentos que me habitam e circulam de uma forma tão veloz, que às vezes parece que não há maneira de organizar em símbolos gráficos em uma folha/tela/espaço vazio.

Mas eu insisto. Eu sigo escrevendo porque já vi que letra pra mim é ar. Letra que ouço com a pele e que humilde e altiva, manuseio no desenho de um teclado que some e me sugere palavras que não quero usar. Letras me sacodem, me causam reboliço, movimento, tristeza, tremor, gozo e cansaço.

Me sinto depois de escrever, como agora, tal como me sinto quando, já sem ar, insisto em pedalar (nas raras vezes que me aventuro). Termino de pedalar nas letras e me jogo no sofá da sala do meu peito, tentando recuperar o fôlego de mais uma vez ter me compartilhado e ler e reler e ler de novo o que escrevi, pra tentar não me perder na incontável chuva de pensamentos conectados que me habita, efêmero e constante. O pulsar do meu peito.
Que sigamos escrevendo e publicando nossas miradas, independente das expectativas leitoras que não pressupunham nossa presença também nas letras escritas.

Aline Moura Rodrigues
Membro e colunista do Instituto

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