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No Brasil, país em que uma mulher é morta a cada 4 horas, ainda há dúvidas de que precisamos ter uma ministra negra no STF?

Imagem criada com IA

Caro senhor Presidente,

 

Escrevo-lhe essa carta aberta como um clamor de nossa nação à margem[1]. Clamor de cada mulher que é assassinada[2] nesse país e se torna estatística para os nossos índices de violência. Clamor de quem sobreviveu a esse índice e entende que se o Brasil ratificou a Convenção de Belém do Pará (1994)[3], por que o tema de violência de gênero ainda é visto como problema doméstico e não endêmico de Direitos Humanos? Como tratar temas complexos e interseccionais[4], se as nossas representantes, que podem julgar decisões e pautas de relações complexas, encontram-se em uma escala de 1 para 10 nesse Supremo Tribunal Federal? O que pensar sobre todas as mulheres que partiram antes que a tese de legitima defesa da honra fosse considerada inconstitucional[5], somente em 2023 neste país? Em que pé se encontram as propostas de políticas de Estado, se o nosso Estado não se encontra representado na última instância de poder judiciário?

 

Como o senhor quer que a gente acredite e siga torcendo, se nem o mínimo que pensamos por reparação histórica, que já poderia ter sido feito duas vezes, não foi cumprido para aumentar a representatividade nessa instância tão crucial a diferentes povos? Em um país com mais de 54% da população negra[6], não ter se quer uma representante ministra dessa população é considerar que o nosso Brasil é um país de todos?

 

É triste pensar que o nosso povo, mais uma vez, pode ser usado como massa de manobra e, mesmo com as vozes do/as intelectuais, pesquisadore/as e influentes importantes de nossa época, o nosso clamor por basta e nos escute ainda não chegou nesta sua decisão. Terceira decisão! Pedimos mais uma vez que, por favor, o senhor nos escute.

 

Não conseguir respirar e ser ouvido/a nesse país já se tornou um rito.

 

Que neste próximo rito não nos decepcione mais uma vez. Já que a troca de seis por meia dúzia já não é mais o mínimo que esperamos. Por favor, pedimos que a decisão seja feita em nome de um futuro para toda/o/es,

 

Cordialmente,

 

 

[1] https://ea.fflch.usp.br/obra/pode-o-subalterno-falar

[2] https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2023-03/no-brasil-uma-mulher-e-vitima-de-violencia-cada-quatro-horas

[3] http://www.cidh.org/basicos/portugues/m.belem.do.para.htm

[4] https://pp.nexojornal.com.br/pergunte-a-um-pesquisador/2020/09/08/Flavia-Rios-interseccionalidade-e-a-quest%C3%A3o-racial

[5] https://portal.stf.jus.br/noticias/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=511556&ori=1

[6] https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2016-12/ibge-negros-sao-17-dos-mais-ricos-e-tres-quartos-da-populacao-mais-pobre

Gabriela Rabello
Fundadora e colunista do Instituto

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