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A alimentação para além de nos nutrir, reforçam as nossas conexões.

A cozinha sempre foi um lugar de magia, seja na transformação do alimento (Cru-Cozido); na quebra da fome e a saciedade; na cura de uma dor e desconforto; e até mesmo em um banho para nos afastar os maus agouros. Os nossos mais velhos, com sua sabedoria, sempre tinham e muitos dos ainda vivos têm uma receita para todos os males.  A alimentação sempre foi um elemento para fortalecer o elo, seja em um momento de comemoração, tristeza, acolhimento ou até mesmo renovar os votos, todos eles tinham algo em comum a mesa: A comida!

A comida é ainda um elo que nos conecta aos Nkise, Voduns e Orixás, através das oferendas, tendo cada divindade a sua comida característica. Presenteá-los com seu “ajeum soró”, comida que manda o recado, mantem viva a religiosidade e a comunicação com o Orun (reino das divindades/céu).

Algo suficiente para renovar nossas energias e podermos seguir mais leves para as atribulações do dia- a – dia.  Para além de nos nutrir, eles reforçam nossas conexões de afeto e memória, pois o momento fica em nossa mente e paladar. Muito vezes, isso é algo cultural, como por exemplo as festas de fim de ano reforçam isso, em sua maioria, as pessoas estão literalmente reunidas para “Comer, rezar e Amar”, pois, há algo para além das festas, a fé envolvida em tudo que fazem. 9

No mês de dezembro, nós nos despedimos de mais um ano e preparamos para uma nova etapa. Nada melhor do que celebrar a tudo isso que foi e tudo o que ainda está por vir, em mesas fartas, preparadas com muitas comidas afetivas. As rabanadas, pudins, musses … especialidades da casa voltam ao seu protagonismo a mesa e é algo que está muito ligada à nossa ancestralidade e cultura, pois foram as mulheres negras as grandes responsáveis por conduzir os tachos, reinventar e adaptar receitas e doces.

Esses doces eram produzidos nas cozinhas nordestinas e se tornaram um símbolo de festa. Ainda, mesmo as receitas que eram consumidas no dia-a-dia tinham a regionalidade, a fé religiosa, e uma identidade própria nas suas produções. [1]Assim, começam a surgir  e fortalecer a cultura das cozinhas brasileiras com muito tempero, misturas de vegetais, como os escravizados estavam em todas as partes do país deixaram suas marcas. Por isso, nós temos uma cozinha tão diferenciada tendo em cada estado algo forte e característico daquela localidade.

Uma expressão culinária utilizada, especialmente no sul dos Estados Unidos, “Soul Food” reflete mais do que comida, reflete a cultura, a história e o movimento de resistência através do alimento. Soul food, no português “Comida da Alma”, tem a sua origem no período de escravização, quando africanos usavam os poucos recursos e ingredientes simples pra criar uma cozinha cheia de sabores ancestrais que ajudavam a alimentar as famílias, bem como no Brasil. A “comida da alma” segue sendo um grande símbolo de aquilombamento e reverência à ancestralidade.

Diversas publicações acadêmicas não retratam o assunto demostrando a grandeza cultural que os escravizados nos deixaram, seja através da música, arte, literatura, idioma, dança dentre outros. Relatar as contribuições culinárias que as pessoas africanas trouxeram para o Brasil é de grande importância até hoje para a formação da gastronomia brasileira. Seus sabores, criatividade e as mãos africanas colaboraram com o tempero e alma, juntamente com as pessoas indígenas e portuguesas de nossa nação. Se falta o reconhecimento, muitas vezes, em outras áreas da vida cotidiana, sem dúvida, a gastronomia e alimentação colaboram para ser um grande elo entre os povos negros e brancos até hoje e, mesmo que despercebidos, se torna pertinente retratar a culinária africana como expressão cultural duradoura até os dias de hoje. Ressaltar a sua importância e demostrar que ela ainda continua sendo um grande meio de comunicação e ferramenta de divulgação da nação afro-brasileiraRevisitar a história é sempre importante para que fatos tão notáveis jamais sejam esquecidos. Fazer-se compreender este processo histórico é de grande valia para entender o real valor das pessoas africanas na nossa história culinária e na formação da identidade gastronômica no Brasil.

[1] GALVEZ, Mariana de castro pareja Aspectos culturais e sua contribuição para a formação da cozinha brasileira. – Votorantim, SP: Edição do autor, 2017

Por Suellen Andrews
Colunista e membro do Instituto 

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