Hoje vamos trazer uma história importante do movimento negro no Brasil, mas uma história que, como tantas outras, não é contada.
A Frente Negra Brasileira (FNB) foi criada em 16 de setembro de 1931, na cidade de São Paulo com o objetivo de defender os direitos do povo negro e lutar contra o racismo e a exclusão social. Levava-se em consideração que mesmo após décadas da abolição da escravidão, pessoas negras continuavam sofrendo com a falta de trabalho, estudo, saúde e o direito de ser!
Naquele momento, o país passava por mudanças profundas. A Velha República, dominada pelas elites rurais de São Paulo e Minas Gerais, havia sido derrubada e o governo de Vargas tentava reorganizar o Estado e criar uma nova ordem política e econômica.
Não havia ainda uma Constituição (a nova só viria em 1934), e o país era governado por decretos e interventores nomeados por Vargas.
Nesse contexto surgiam novos movimentos sociais e políticos, como sindicatos, associações de trabalhadores e grupos que buscavam representar setores populares.
A Era Vargas (1930–1945) foi um dos períodos mais marcantes da história do Brasil. Ela começou com a Revolução de 1930, quando Getúlio Vargas assumiu o poder, e terminou em 1945, quando ele foi deposto pelos militares.
Vargas ficou conhecido como o “pai dos pobres” porque criou várias leis trabalhistas, como: Carteira de Trabalho (1932); Salário mínimo (1938); Jornada de 8 horas; Férias e descanso semanal.
Em 1943, reuniu tudo isso na CLT – Consolidação das Leis do Trabalho, criou o Ministério do Trabalho, sindicatos oficiais e o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), para controlar o que era divulgado na mídia.
Esses direitos beneficiaram também trabalhadores negros, entretanto a maioria eram operários e trabalhadores urbanos. E mesmo que muitos estivessem em trabalhos informais, pode-se dizer que houve alguma melhoria nas condições de vida.
O governo Vargas passou a usar a cultura para criar uma identidade nacional, e isso abriu algum espaço para elementos da cultura negra, como o samba, o carnaval e a capoeira.
Artistas negros começaram a aparecer mais na música e na cultura popular, embora o reconhecimento fosse limitado e muitas vezes estereotipado.
Nesse período também, com a industrialização e o crescimento das cidades, muitos negros migraram para os centros urbanos em busca de trabalho. Isso ajudou na organização de comunidades e movimentos negros, mesmo com restrições politicas.
O governo de Vargas em si não criou nenhuma política específica para combater o racismo ou promover igualdade racial. O mito da “democracia racial” foi fortalecido, ou seja, a ideia de que não existia racismo no Brasil apagou as denúncias e as lutas do movimento. E os negros continuaram concentrados em trabalhos de baixa renda e pouca valorização, sem acesso real à mobilidade social.
Assim, a FNB surgiu porque um grupo de pessoas negras decidiu se organizar para mudar a realidade de exclusão racial. Entre os fundadores estavam Arlindo Veiga dos Santos, José Correia Leite, Antônio Pinto e Francisco Lucrécio. Eles acreditavam que, juntos, poderiam fortalecer o povo negro e conquistar mais espaço na sociedade.
A Frente Negra fazia muitas atividades:criava escolas e cursos profissionalizantes, oferecia atendimento médico e assistência social, promovia eventos culturais e reuniões políticas e publicava um jornal chamado “A Voz da Raça”, onde denunciava o racismo e falava sobre o orgulho de ser negro.
Com o tempo, a organização cresceu muito e chegou a se transformar no primeiro partido negro da história do Brasil, em 1936. Entretanto em 1937, o governo de Getúlio Vargas proibiu todos os partidos e a Frente foi fechada.
Em 1937, com o golpe que instaurou o Estado Novo, todos os partidos e associações políticas foram proibidos, incluindo a Frente Negra Brasileira (FNB). Isso interrompeu um importante movimento de organização política negra, que estava crescendo e ganhando força.
Mesmo assim, a importância da Frente Negra Brasileira continuou. Ela foi um símbolo de resistência e união do povo negro, e abriu caminho para outros movimentos e organizações que vieram depois, ajudando a construir a consciência racial e política negra no Brasil.
Referências
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Domingues, P. (2008). Um “templo de luz”: Frente Negra Brasileira (1931–1937) e a questão da educação. Revista Brasileira de Educação, 13(39), 517–534. https://www.scielo.br/j/rbedu/a/hqBHpKJHNtbrVMgJb3Fpv9M/
Oliveira, A. C. de. (2006). Quem é a “Gente Negra Nacional”? Frente Negra Brasileira e A Voz da Raça (1933–1937) [Dissertação de mestrado, Universidade Estadual de Campinas]. https://www.researchgate.net/publication/216731409_Who_is_the_Gente_Negra_Nacional_Frente_Negra_brasileira_and_A_Voz_da_Raca_1933-1937_portuguese
Gomes, A. dos S. (2012). O trabalhismo e o movimento social negro brasileiro (1943–1958). Temporalidades, 4(2), 177–196. https://periodicos.ufmg.br/index.php/temporalidades/article/view/5456
Souza, P. R. de. (2023). A questão racial no trabalhismo varguista: apontamentos para compreensão da integração do negro no trabalho. Sociologias Plurais, 9(1), 253–269. https://revistas.ufpr.br/sclplr/article/download/89602/48424
Rafaele Ribeiro
Liderança e colunista do Instituto

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