A capoeira é uma expressão cultural afro-brasileira que combina luta, dança, música e ancestralidade. Sua origem remonta ao período da escravização no Brasil, quando africanos trazidos à força criaram formas de resistência física, espiritual e cultural. Para driblar a vigilância dos senhores de engenho, os escravizados disfarçaram os movimentos de combate com ritmos e gestos coreografados, dando origem à capoeira como conhecemos hoje.
Surgida principalmente nos engenhos e quilombos do século XVI, a capoeira foi desenvolvida por diferentes etnias africanas, com destaque para os povos bantos. Em lugares como o Quilombo dos Palmares, ela era não só uma forma de defesa, mas também de preservação da identidade e fortalecimento da coletividade.
Após a abolição da escravização, a capoeira passou a ser criminalizada e perseguida pela polícia, sendo associada à marginalidade.
Após a abolição, o Estado brasileiro não garantiu acesso a trabalho, terra ou direitos básicos à população negra. Ao mesmo tempo, práticas culturais afro-brasileiras (como a capoeira, o samba e as religiões de matriz africana) passaram a ser perseguidas.
A capoeira foi associada à “vadiagem”, e seus praticantes eram presos por “andar sem destino”, “formar aglomerações” ou “perturbar a ordem”. Mestres de capoeira como Besouro Mangangá e outros foram perseguidos sob essa justificativa.
Assim, a Lei da Vadiagem tornou-se uma ferramenta de controle social e racismo institucionalizado, usada para silenciar e criminalizar expressões da cultura negra e manter a ordem racista herdada da escravização.
No entanto, resistiu nas periferias urbanas e nos terreiros, sendo resgatada e valorizada como símbolo da cultura afro-brasileira no século XX. Com mestres como Mestre Bimba e Mestre Pastinha, surgiram as primeiras escolas formais, que ajudaram a consolidar os dois tipos de capoeira: Regional e Angola.
A Capoeira Angola é considerada a forma mais tradicional da capoeira, com raízes diretas nas culturas africanas trazidas ao Brasil pelos povos escravizados, especialmente da região do Congo e Angola, na África.
Ela é marcada por uma jogada mais lenta, rasteira, estratégica e ritualística, sempre acompanhada por música, canto e toques de berimbau. O jogo acontece próximo ao chão e é guiado pela malícia, pela ginga e pelo diálogo corporal entre os jogadores. A Capoeira Angola valoriza a sabedoria ancestral e o conhecimento transmitido oralmente de geração em geração.
A Capoeira Regional é um estilo de capoeira criado por Mestre Bimba (Manoel dos Reis Machado) na década de 1930, em Salvador (Bahia), com o objetivo de valorizar e sistematizar a capoeira como arte marcial, combatendo o preconceito e a criminalização da prática.
Assim como na Angola, a Capoeira Regional é praticada em roda, com instrumentos como o berimbau (toque de São Bento Grande), pandeiro e atabaque, além de cantos que exaltam os mestres, a ancestralidade e a luta do povo negro.
Hoje, a capoeira é reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO (2014). Mais que uma arte marcial, ela é um legado de resistência, sabedoria e criatividade do povo negro. Seus cantos, toques de berimbau e movimentos circulares reafirmam a memória ancestral e celebram a força da cultura afro-brasileira.
Referências:
Pinho, Osmundo.
Capoeira e identidade negra na Bahia. EDUFBA, 2005.
UNESCO.
Capoeira reconhecida como Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade – 2014.
IPHAN – Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional.

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