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Educação Quilombola e suas Confluências: Saberes, Territórios e a Filosofia de Nêgo Bispo

Imagem criada com IA

A educação quilombola é um campo de resistência e afirmação identitária que se estrutura na defesa dos saberes ancestrais, das práticas comunitárias e do direito à diferença. Enraizada nos territórios onde se preservam memórias de luta, espiritualidade e modos próprios de viver, essa educação ultrapassa o espaço escolar e se manifesta como uma pedagogia da terra, da coletividade e da ancestralidade.

As comunidades quilombolas produzem conhecimento a partir de suas experiências históricas e culturais, valorizando o trabalho coletivo, a oralidade, a relação simbiótica com a natureza e a transmissão intergeracional dos saberes. Essa forma de educar parte de uma cosmovisão em que o território é também escola, arquivo e fonte de vida. Assim, a educação quilombola rompe com a lógica eurocêntrica e colonial de ensino, propondo uma aprendizagem situada, que reconhece o saber popular como legítimo e fundamental para a formação humana.

Nesse contexto, a contribuição do pensador e poeta quilombola Nêgo Bispo (Antônio Bispo dos Santos) é central para compreender as confluências entre educação, cultura e política. Em suas reflexões, Nêgo Bispo propõe o conceito de “contracolonização”, que se contrapõe ao projeto histórico de colonização e nega a imposição de um único modo de existir. A contracolonização, segundo ele, não é um movimento de vingança, mas de reexistência  a afirmação da vida em seus múltiplos modos de ser, viver e saber.

Para Nêgo Bispo, os quilombos são espaços de continuidade e invenção. Ele defende que “enquanto os colonizadores produzem coisas, os quilombolas reproduzem a vida”, indicando que a lógica comunitária quilombola se baseia na circularidade, na reciprocidade e na partilha. Essa perspectiva se alinha à ideia de uma educação do território, em que o aprender é inseparável do viver e do conviver.

As confluências da educação quilombola estão, portanto, em seu caráter integrador e plural. Ela dialoga com a educação popular, com os movimentos sociais e com as epistemologias negras e indígenas, produzindo pontes entre os saberes da tradição e as urgências contemporâneas. Trata-se de uma pedagogia da resistência, que questiona o racismo estrutural e propõe novas formas de se pensar o currículo, a escola e o conhecimento a partir do chão da comunidade.

A valorização da educação quilombola é também um ato político de enfrentamento ao epistemicídio  a destruição sistemática dos saberes não ocidentais. Ao reconhecer as vozes quilombolas, a escola se torna um espaço de diálogo e emancipação, capaz de formar sujeitos críticos, conscientes de sua história e comprometidos com a transformação social.

 

Referências

  • BISPO DOS SANTOS, Antônio. Colonização, Quilombos: modos e significados. Brasília: INCTI, 2015.
  • BISPO DOS SANTOS, Antônio. A Terra dá, a Terra quer: saberes e fazeres quilombolas e a contracolonização. São Paulo: Ubu Editora, 2023.
  • BRASIL. Ministério da Educação. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Escolar Quilombola. Brasília: MEC, 2012.
  • GOMES, Nilma Lino. O Movimento Negro Educador: saberes construídos nas lutas por emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
  • FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

 

Anelise Silveira Cardoso 
Membro e colunista do Instituto

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