“A história é sempre escrita pelos vencedores?” A provocação feita por George Orwell em Revolução dos Bichos continua ecoando com força nos dias de hoje. Em um mundo dominado por redes sociais, “gurus” do sucesso e influencers que pregam mantras como “vença, ame-se, seja você, elimine toda negatividade para florescer”, vivemos mergulhados em uma sociedade da performance um império da positividade. É a era em que tudo se aprende em vídeos no YouTube e onde algoritmos decidem o que consumimos, gostamos e desejamos. Somos bombardeados por exemplos de grandes “vencedores” e celebridades que apresentam receitas prontas para alcançar o topo e conquistar uma felicidade que, muitas vezes, não existe. Mas será que, nesse espetáculo, alguém nos mostra o outro lado? O lado dos que perdem? Ou daqueles que simplesmente não querem esse “topo” prometido?
E nós, mulheres negras, em que lado dessa história ficamos? No das vencedoras ou das perdedoras?
As estruturas patriarcais e coloniais, baseadas no machismo e no racismo, não nos deixam esquecer: “Você é negro, precisa ser duas vezes melhor”. Essa frase ecoa há gerações nas famílias negras como uma cobrança permanente seja para as mulheres, seja para os homens. A exigência de sermos “exemplos” desgasta e oprime, pois, apesar de existirem figuras como Oprah Winfrey ou Serena Williams, quem acredita que elas nunca conheceram derrotas, dores e perdas?
Talvez seja hora de questionarmos esse roteiro imposto. Invés de apenas celebrar chegadas, precisamos aprender a valorizar os percursos. Como atletas e cientistas que não se definem apenas pelo pódio, mas pelo caminho que os leva até ele um caminho cheio de curvas, quedas e recomeços , precisamos reconhecer que a vida não é um destino final. É processo, movimento, mudança constante.
Anelise Silveira Cardoso
Membro e colunista do Instituto

Licença Creative Commons CC BY-NC-ND 4.0: O conteúdo do blog pode ser reproduzido sob as condições estabelecidas pela Licença Creative Commons CC BY-NC-ND 4.0. Esta licença permite que o material seja copiado e redistribuído apenas se for garantida a atribuição aos autores de cada conteúdo reproduzido, bem ao blog do Instituto LetraPreta. A utilização desta licença só é possível para uso não comercial, sem qualquer tipo de modificação. Os termos da licença podem ser consultados em: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt