Créditos: Foto de Deadline.
Por muito tempo, a falta de representatividade foi a realidade de vários grupos sociais, principalmente da população negra. A falta do sentimento de pertencimento começa a se evidenciar na infância e pode ser percebida em diversas situações do cotidiano, desde a escassez de bonecas negras [i] em uma loja de brinquedos, até a falta de profissionais em cargos de liderança [ii].
Estamos falando de uma fase da vida em que se espelhar em alguém que admiramos, faz parte do nosso crescimento. Seja um artista, um atleta, um personagem ou até mesmo alguém da nossa convivência. O fato é que sempre estamos buscando referências e inspirações.
A importância da representatividade negra na mídia
A representatividade negra na mídia não pode ser limitada apenas a estereótipos criados a partir do ponto de vista da população branca [iii]. Um exemplo, são os atores negros, que constantemente são escalados para interpretar apenas personagens que transmitem imagens marginalizadas, sexualizadas ou caricatas, sendo quase sempre ignorados das tramas centrais.
Recentemente, foi lançado nos cinemas o Live Action de “A Pequena Sereia “- um clássico infantil, estrelado pela atriz Halle Bailey. Apesar de ter sido um sucesso e um símbolo de representatividade entre as crianças, a obra atraiu milhares de comentários racistas e repletos de ódio. O mesmo está acontecendo com a nova versão de Romeu e Julieta [iv]. Isso se deve ao fato de que tentativas de mudança desses cenários racistas acabam sendo vistas como ameaças aos espaços comumente ocupados por pessoas brancas ao longa da história, espaços esses que nos forma roubados [v].
Acesso à educação
Quantas professoras e professores negros passaram pela sua vida acadêmica? Provavelmente a sua resposta não se aproxima do número que você gostaria. Esse cenário impacta diretamente na forma como instituições lidam com a educação antirracista nas escolas, ou melhor, em como a ignoram.
A criação de cotas raciais serve como uma forma de mudar esse cenário, mas sabemos que o processo é longo, afinal grande parte da população negra vive em condições tão precárias, que precisam dedicar grande parte do dia para se preocupar com necessidades urgentes, como se alimentar, ter uma moradia e principalmente em sobreviver, tendo muitas vezes que deixar a educação em segundo plano.
Representatividade negra no mercado de trabalho
Ainda é baixo o número de profissionais negros em cargos de liderança. Segundo dados do PNAD, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, apenas 2,6% de homens negros conseguem chegar em cargos de liderança, diminuindo o percentual para mulheres negras, correspondendo a 2,4%. Esses valores, chegam a ser três vezes mais baixos, se comparada a oportunidades de pessoas brancas, o que refletirá como impacto, não somente para a pessoa, mas também para futuras gerações. Você provavelmente já deve ter entrado em um shopping e se distraído enquanto observava quantas pessoas estavam naquele ambiente trabalhando e quantas estavam se divertindo. Ou também ter entrado em um ambiente, em que caso você seja uma pessoa negra, era uma das poucas representantes naquele local.
Tal observação, de forma alguma tem como intuito desmerecer ou desqualificar qualquer profissão exercida, mas sim traçar um paralelo entre as oportunidades que nos são negadas e em como isso reflete na falta de lazer e de tempo para se dedicar à projetos de desenvolvimento pessoal e profissional.
O impacto negativo da falta de representatividade percorre o processo de amadurecimento e muitas vezes resulta em consequências como insegurança, baixa autoestima, sentimento de incapacidade e vários outros. Um trauma na vida adulta quase sempre está relacionado com questões da infância, se você fizer uma breve visita ao seu passado, provavelmente poderá entender [vi].
Transformação
Podemos dizer que avançamos muito ao longo dos anos, mas ainda é pouco perto do que nos foi tirado. Ativistas, projetos e organizações voltadas para a diversidade e inclusão são alguns agentes transformadores dessa realidade que nunca nos coube. Organizações como o LetraPreta se compromete em participar efetivamente do processo de transformação, com o propósito que não poderia ser diferente: lutar para que as próximas gerações se sintam representadas, acolhidas e capazes, assim como nossos antepassados lutaram por nós.
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[i] https://super.abril.com.br/historia/o-experimento-psicologico-com-bonecas-que-venceu-a-segregacao-racial-nos-eua
[ii] https://www.cnnbrasil.com.br/noticias/homens-e-mulheres-negros-ainda-sao-minoria-em-cargos-de-lideranca-no-brasil/
[iii] Collins, P. H. (2019). Pensamento feminista negro: conhecimento, consciência e a política do empoderamento. Boitempo editorial.
[iv] https://abcnews.go.com/GMA/Culture/tom-holland-francesca-amewudah-rivers-star-west-end/story?id=108621124
[v]No Brasil, uma das intelectuais feministas que buscam trabalhar e explicar os efeitos com maior aprofundamento é Winnie Bueno, em que em seu livro, Imagens de Controle, nos permite pensar os efeitos sociais que envolvem esse tipo de representação estereotipada em pessoas negras e os reflexos de estruturas que se mantem em pessoas não racializadas nesse debate.
Por Jade Reis
Responsável pelo blog do Instituto
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