Imagem: Jongo, quadro de Augusto Earle, 1822
O jongo, ou caxambu é um ritmo que teve suas origens na região africana do Congo-Angola. Chegou ao Brasil-Colônia com os negros de origem bantu trazidos como escravos para o trabalho forçado nas fazendas de café do Vale do Rio Paraíba, no interior dos estados do Rio de Janeiro, Minas Gerais e São Paulo.
A influência da nação bantu foi fundamental na formação da cultura brasileira, para acalmar a revolta e o sofrimento dos negros com a escravidão e distrair o tédio dos brancos, os donos das isoladas fazendas de café permitiam que seus escravos dançassem o jongo nos dias dos santos católicos, para esses negros africanos e seus filhos, o jongo era um dos únicos momentos permitidos de trocas e confraternização.
Uma dança profana para o divertimento, mas uma atitude religiosa permeia a festa. Antigamente, só os mais velhos podiam entrar na roda. Os jovens ficavam de fora observando. Os antigos eram muito rígidos com os mais novos e exigiam muita dedicação e respeito para ensinar os segredos ou “” mirongas”” do jongo e os fundamentos dos seus pontos e esses fatos levaram a dança a um processo acelerado de extinção.
Preocupados com isso, Mestre Darcy Monteiro e sua família convidaram as antigas jongueiras Vovó Teresa, Djanira, Tia Maria da Grota e Tia Eulália para formar o grupo artístico Jongo da Serrinha e quebraram o tabu que impedia as crianças de participarem do jongo.
Das diversas influências o jongo também contribuiu decisivamente para o nascimento do samba no Rio de Janeiro. No início do século 20 o jongo era o ritmo mais tocado no alto das primeiras favelas pelos fundadores das escolas de samba antes mesmo do samba nascer e se popularizar. Os antigos sambistas da velha guarda das escolas de samba realizavam rodas de jongo em suas casas. Nessas festas visitavam-se uns aos outros, recebendo também jongueiros do interior. Os versos do partido-alto e do samba de terreiro são inventados na hora pelo improvisador. Esse canto de improviso nasceu das rodas de jongo.
A umbigada, que na língua quimbundo se chama “”semba””, originou o termo samba e faz parte do samba primitivo. A “”mpwita””, instrumento congo-angolano presente no jongo, é a avó africana das cuícas das baterias das escolas de samba.
Os jongueiros dançam muitas vezes descalços, vestindo as roupas comuns do dia a dia um casal de cada vez dirige-se para o centro da roda girando em sentido contrário ao dos ponteiros do relógio. De vez em quando, aproximam-se e fazem a menção de uma umbigada. A umbigada no jongo é de longe.
Logo um outro entra roda, pedindo licença: “” dá uma beirada cumpadre!”” ou “” Bota fora ioiô!”” Os casais, um de cada vez, vão se revezando até de manhã numa disputa de força, ginga e agilidade.
Durante a dança, o casal trava uma comunicação pelo olhar, que vai determinando o deslocamento pela roda e o momento da umbigada.
No jongo da Serrinha, existe um passo que se chama “”tabiá””, uma pisada forte com o pé direito.
E desta forma se mantém até os dias atuais o grupo cultural Jongo da serrinha
“Patrimônio imaterial do Sudeste registrado pelo IPHAN em 2005, por uma iniciativa do Jongo da Serrinha e do Quilombo de São José. Criado na década de 1960 pela família Monteiro, de Mestre Darcy do Jongo e Vovó Maria Joanna Rezadeira, o JONGO DA SERRINHA se consolidou como uma das principais instituições da cultura afro-brasileira no país. Em 2000, criou uma ONG com a missão de salvaguardar o jongo e combater o racismo estrutural brasileiro. Suas ações são interseccionais e reúnem cultura, educação, desenvolvimento comunitário, memória, proteção da infância, juventude e saúde mental. “
Salve os Jongueiros e os diversos grupos que mantêm como tradição viva a dança como forma de resistência.
Por Suellen Andrews
Colunista e membro do Instituto
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