Expressões racistas causam desconforto porque não se trata somente de palavras. Palavras não são racistas, pessoas são.
Por trás de uma expressão racista existem ideologias discriminatórias que são construídas na intenção de humilhar e inferiorizar alguém por pertencer a um grupo social que a sociedade estruturalmente menospreza e oprime. O racismo linguístico contra pessoas negras mora na intenção do racista em inferiorizar, animalizar e humilhar a sua vítima, o que é nítido quando percebemos que grande parte dessas expressões colocam pessoas negras em lugares de desumanização, ou seja, no lugar de objetos ou animais, ou em posição de oposto ao que é bom, positivo e belo.
De acordo com o linguista Gabriel Nascimento, o racismo linguístico é a relação entre linguagem e racismo, uma forma sistemática de opressão que se fundamenta na língua. Essa violência é percebida não somente em expressões racistas, mas também na estigmatização de falares de grupos minoritarizados, no sucateamento da educação pública – o que impacta no ensino do Português e outras línguas – e no apagamento das influências das línguas africanas no português falado no Brasil, por exemplo.
Palavras que oprimem têm esse efeito por carregarem ideologias preconceituosas, em que pessoas racistas transformam a língua e a linguagem como formas de materializar seu preconceito. Logo, para além de questionar a problemática de usar determinados termos, o combate ao racismo linguístico também necessita do combate ao racismo como um todo, especialmente o estrutural, que atua na normalização das formas de violência contra pessoas negras, inclusive na linguagem.
A língua é muito mais do que encontramos em dicionários e gramáticas, ela é cultura e identidade. Ela pode ser fonte de opressão mas também forma de resistência. O combate ao racismo linguístico é uma tarefa diária e inadiável, e nós devemos lutar contra toda forma de opressão de oprimir nosso povo.
Thainá Rocha
Membro e colunista do Instituto

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