Vamos falar sobre um assunto que é tão silenciado e invisibilizado, mas que tem impacto importante na saúde mental da população negra, nesse caso de hoje especificamente, na vida de homens negros: o suicídio
O suicídio é um problema sério de saúde, mas não afeta todo mundo da mesma forma. Entre os homens negros, a situação é ainda mais difícil, porque além dos problemas comuns da vida, eles enfrentam o peso do racismo, da violência e da desigualdade social.
Pesquisas mostram que jovens negros de 10 a 19 anos têm 67% mais chance de morrer por suicídio do que jovens brancos. Entre os 10 e 29 anos, a diferença continua: os negros são cerca de 45% mais afetados, e quando falamos só dos homens, esse número chega a 50%.
Na pandemia, a situação ficou ainda pior. Pessoas negras tiveram 36% mais mortes ligadas ao desespero, como o suicídio, do que pessoas brancas. Isso mostra como marcadores sociais e o racismo afetam diretamente a saúde mental.
A resposta está na interseccionalidade: o homem negro não sofre apenas por ser homem ou apenas por ser negro, mas pela soma de diferentes opressões. Ele enfrenta racismo estrutural, que limita o acesso a direitos básicos como saúde, educação e emprego; desigualdade de classe, que aumenta a pobreza e a falta de oportunidades; violência urbana e encarceramento em massa, que afetam principalmente jovens negros; masculinidade tradicional, que cobra força, resistência e silêncio diante da dor.
Esses fatores se cruzam e criam um peso muito maior sobre a saúde mental. O resultado é o isolamento, a dificuldade de buscar ajuda e o aumento do risco de depressão, ansiedade e suicídio.
Outro aspecto importante é a masculinidade tradicional, que impõe ao homem negro o papel de ser “forte” e “resistente”, dificultando a expressão de emoções e a procura por apoio psicológico. Isso gera isolamento, silenciamento e agrava quadros de depressão, ansiedade e desesperança.
Mesmo com números tão graves, muitos registros de suicídio não dizem se a vítima era branca ou negra. Essa falta de informação esconde a dimensão real do problema e atrapalha a criação de políticas públicas específicas para a população negra.
Entretanto, para enfrentar esse cenário, é urgente ampliar as estratégias de rastreamento de casos para, assim, amplificar políticas públicas de saúde mental voltadas especificamente para a população negra, capacitar profissionais para um atendimento antirracista e sensível às questões de gênero e classe, e fortalecer redes de apoio comunitárias e familiares. Falar sobre suicídio e racismo de forma aberta, sem estigmas, é um passo fundamental para salvar vidas.
Se você ou alguém que você conhece está passando por sofrimento emocional intenso, procure ajuda profissional. No Brasil, o CVV – Centro de Valorização da Vida atende 24 horas por dia, gratuitamente, pelo telefone 188 ou pelo site cvv.org.br.
Referências
ALMA PRETA. Jovens homens negros são 67% mais vítimas de suicídio do que os brancos. Alma Preta Jornalismo, 2018. Disponível em: https://almapreta.com.br/sessao/cotidiano/jovens-homens-negros-sao-67-mais-vitimas-de-suicidio-do-que-os-brancos. Acesso em: 26 set. 2025.
BRASIL. Ministério da Saúde. Óbitos por Suicídio entre Adolescentes e Jovens Negros no Brasil: 2012 a 2016. Brasília: MS, 2018.
CUBA SI. Suicide in black youth and teenagers in Brazil: more than in whites. CubaSí, 2018. Disponível em: https://cubasi.cu/en/world/item/18338-suicide-in-black-youth-and-teenagers-in-brazil-more-than-in-whites. Acesso em: 26 set. 2025.
FIOCRUZ. Study shows suicide and self-injury rates rise in Brazil. Fundação Oswaldo Cruz, 2024. Disponível em: https://fiocruz.br/en/noticia/2024/02/study-shows-suicide-and-self-injury-rates-rise-brazil. Acesso em: 26 set. 2025.
NESP – Núcleo de Estudos de Saúde Pública (UnB). Saúde negra: homens negros são as principais vítimas de armas de fogo no Brasil, diz pesquisa. Nesp/UnB, 2023. Disponível em: https://www.nesp.unb.br/index.php/noticias/573-saude-negra-homens-negros-sao-as-principais-vitimas-de-armas-de-fogo-no-brasil-diz-pesquisa. Acesso em: 26 set. 2025.
PREPRINTS. Deaths of despair in Brazil during the COVID-19 pandemic: racial inequalities in mortality. Preprints.org, 2024. Disponível em: https://www.preprints.org/manuscript/202410.2556/v1. Acesso em: 26 set. 2025.
Rafaele Ribeiro
Membro e colunista do Instituto

Licença Creative Commons CC BY-NC-ND 4.0: O conteúdo do blog pode ser reproduzido sob as condições estabelecidas pela Licença Creative Commons CC BY-NC-ND 4.0. Esta licença permite que o material seja copiado e redistribuído apenas se for garantida a atribuição aos autores de cada conteúdo reproduzido, bem ao blog do Instituto LetraPreta. A utilização desta licença só é possível para uso não comercial, sem qualquer tipo de modificação. Os termos da licença podem ser consultados em: https://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/4.0/deed.pt