Fonte: saberesepraticas.cenpec.org.br
Em um berço gaúcho marcado por memórias e silêncios, nasceu em 1942 uma menina negra que mais tarde se tornaria um dos nomes mais potentes da educação brasileira: Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva. Desde cedo, sua existência foi resistência. Em um país que teima em apagar as contribuições negras, Petronilha fez da palavra sua arma, da pesquisa seu território, e da educação, sua trincheira de luta.
Formou-se em Letras – com habilitação em Francês – pela PUC-RS, o que já era, por si só, um ato de transgressão para uma mulher negra num Brasil ainda mais desigual. Mas ela foi além. Conquistou o mestrado e o doutorado em Educação pela UFRGS, abrindo caminhos que antes pareciam intransponíveis. Não bastava estar nos espaços do saber: era preciso transformá-los.
Petronilha lecionou em instituições como a UFRGS e a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), onde se consolidou como Professora Sênior no Departamento de Teorias e Práticas Pedagógicas. Mas sua marca vai muito além da sala de aula. Ela foi uma das mentes que pavimentaram a Lei 10.639/03, que tornou obrigatório o ensino da História e Cultura Afro-Brasileira e Africana nas escolas. Seu papel como relatora do parecer CNE/CP nº 3/2004 foi decisivo para que o racismo deixasse de ser um não-dito na educação e passasse a ser enfrentado com seriedade e compromisso.
Sua trajetória também é marcada por escutas atentas e pesquisas comprometidas com as comunidades negras rurais. Sua tese sobre os trabalhadores do Limoeiro foi tão rigorosa quanto sensível, e ajudou a reconhecer oficialmente aquele território como um quilombo — um gesto de reparação histórica com os que resistem silenciosamente ao longo dos séculos.
Seus títulos — Doutora Honoris Causa, Professora Emérita, Cavaleira da Ordem Nacional do Mérito — são apenas a moldura de uma obra viva. O que ela planta são sementes de justiça, e o que colhe são frutos de esperança.
Petronilha Beatriz é daquelas mulheres que transformam a palavra em semente, a semente em raiz e a raiz em floresta. Ela não apenas pensou a educação — ela a reinventou, tornando-a negra, plural e verdadeiramente brasileira.
BRASIL. Ministério da Educação. Selo Petronilha. Disponível em: https://www.gov.br/mec/pt-br/pneerq/selo-petronilha. Acesso em: 10 jul. 2025.
Colunista e membro do Instituto

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