Preta Gil não é só filha de um nome famoso na música brasileira, ela foi uma mulher que cantou, falou, dançou e enfrentou os desafios da vida com muita força. Mulher preta, artista de múltiplas facetas, ativista de verdade, ela conquistou os palcos e os espaços com uma energia que mostra que viver, aqui nesse país, também é resistir. Sua história é como um grito vivo contra o racismo, a gordofobia, o machismo e o silêncio que insiste em silenciar.
Desde o começo, Preta quebrou os moldes. Enquanto o mundo tentava encaixá-la em caixinhas, ela preferiu brilhar no centro do palco, cantando sobre amor, prazer e liberdade, sem pedir permissão. Ela sempre usou sua arte pra denunciar, celebrar, cantar o passado e olhar pro futuro.
Preta colocou sua voz e sua imagem a serviço de algo maior: a dignidade de corpos negros, de mulheres que não cabem em normas e padrões e de todo mundo que quer ser completo.
Essas normas não são neutras. Elas excluem, violentam e invisibilizam corpos que não se encaixam nesses padrões — corpos gordos, pretos, trans, com deficiência, corpos dissidentes. Essa exclusão acontece, não só no campo simbólico, mas nas práticas diárias: no acesso à saúde, à moda, ao lazer, ao trabalho e até ao direito de existir em espaços públicos sem ser julgado ou hostilizado.
Vivemos em uma sociedade que impõe padrões rígidos sobre como os corpos devem ser — o que é considerado belo, saudável, desejável ou até mesmo “aceitável”. A corponormatividade é justamente esse sistema de normas que define um “corpo ideal”: magro, jovem, sem deficiência, cisgênero, heterossexual e dentro de uma estética branca eurocentrada.
Lutar contra a corponormatividade é lutar pelo direito de todos os corpos serem valorizados, respeitados e cuidados. É reconhecer que todos os corpos são políticos e que o padrão imposto serve para manter desigualdades e controlar formas de viver. É também entender que o amor-próprio individual só tem potência se vier acompanhado de justiça coletiva.
Nos últimos anos, Preta só se fortaleceu. Enfrentar um câncer foi uma prova de coragem pública: ao mostrar sua vulnerabilidade, Preta deu força pra muita gente.
Mais uma vez, ela provou que resistência também é cuidar, dividir a dor com generosidade e transformar fragilidade em força coletiva. A importância de Preta Gil vai além do sobrenome, vai além da música e da televisão. Ela simboliza uma nova geração de mulheres negras que já não aceitam calar ou ficar na sombra. Sua vida foi política, sua alegria foi uma revolução. Com sua presença radiante, ela nos lembrou que ser verdadeira, sem pedir desculpas, já é um ato de liberdade que faz toda a diferença.
Colunista e Membro do Instituto

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