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Ser mulher preta no Brasil

Imagem criada com IA

Fechando o Julho das Pretas, o Letra vem fazer essa última refelxão sobre o que é ser mulher preta no Brasil.

Ser mulher preta no Brasil é carregar no corpo a memória de uma história marcada por violência, é crescer ouvindo que não é suficiente, que é demais, que precisa abaixar a voz, alisar o cabelo, esconder a pele — e ainda assim se levantar todos os dias, linda, altiva, criando beleza onde o mundo só quis silêncio.

Ser mulher preta é ser muitas em uma só: é ser mãe, trabalhadora, artista, intelectual, guerreira, sem deixar de ser humana. É rir alto, ocupar espaços que antes foram negados, e criar novos caminhos para que outras venham também.

Ser mulher preta no Brasil é ato de coragem, é viver em um país que construiu sua estrutura sobre nossos corpos, negando-nos não apenas os direitos básicos, mas também o mais profundo e transformador dos direitos: o direito de amar e ser amada. E não é somente o amor romântico, mas o amor pelas coisas simples, por fazermos o que quisermos e sermos quem quisermos ser.

Somos, não, fomos….ou ainda somos?  Educadas a servir, a cuidar dos outros, a ser fortes o tempo todo, mas raramente somos vistas como dignas de cuidado, de afeto, de vulnerabilidade. Não fomos ensinadas a amar a nós mesmas. E é por isso que, reaprender o amor é um gesto revolucionário.

Revolucionário porque em reflexão à carta da nossa companheira no post anterior (https://letrapretaedu.com/o-julho-das-pretas-e-tambem-um-periodo-para-demonstrar-apoio-a-todas-as-mulheres/) , nossos corpos seguem sendo somente estatísticas.

A potência de ser mulher preta está justamente em sobreviver onde muitos não esperam que sobrevivamos, e ainda assim florescer. Pois enquanto o movimento feminista nascia, e mulheres reivindicavam o direito de “não cuidar”, nós pretas estávamos nos movimentando para “não cuidar”, para não sermos mais apenas as cuidadoras dos filhos delas, mesmo enquanto elas mesmas não podiam sair de casa.

Ser mulher preta é, então, aprender, bom, a gente tem tentado, a se amar em um mundo que tentou nos convencer do contrário. É resgatar o amor como direito e prática diária. É ser vida em abundância,  devido à ancestralidade que ensina a transformar dor em força, ausência em cuidado, opressão em potência.

É se olhar no espelho e dizer: eu sou digna de afeto, de descanso, de ternura, de alegria, de ser cuidada, de não ser presa no presídio masculino e sofrer estupro coletivo, ou ser espancada por aqueles em quem depositamos nossa confiança para ser uma das nossas fontes de cuidado, e ver o “senhor” seguir vivendo sua vida traquilamente enquanto nossas cicatrizes nos lembram os dias do perigo de ser mulher preta.

 

Reivindicar o amor é parte da luta.
É política.
É revolução.
É reexistência.

É construir relações em que o amor não seja sacrifício, mas reciprocidade.

 
Por Rafaele Ribeiro
Colunista e membro do Instituto

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