Vivemos em uma sociedade adoecida. Em 2025, se naturalizou que deputados usem seus privilégios como forma de precarizar ainda mais um país em que mulheres não têm voz sobre seus próprios corpos. Motivados pelo ego e pelos prazeres fingidos por uma falsa ideia de moral cristã, usam suas religiões como defesa para justificar suas violências.
Nesta quarta-feira (5), durante as discussões sobre mudanças no Imposto de Renda na Câmara dos Deputados, 317 parlamentares decidiram que sua autoridade e atenção, nesse momento, deveriam se voltar a medidas que nos fazem retornar ao ano de 1600. Votaram a favor de propostas que restringem o acesso a um aborto seguro e acompanhado para crianças vítimas de estupro.
Com a absurda ideia de permitir que homens cristãos decidam sobre o direito das mulheres — e pior, das crianças — que sofreram violências inimagináveis, esses parlamentares agem sob a ilusão de que o “Deus deles” está à frente dessa missão “em prol da vida”. Uma vida que só existe quando lhes convém.
Se continuarmos dando liberdade a essas pessoas que dizem nos “representar”, será que, daqui a alguns anos, nós, mulheres, ainda teremos o direito de votar? Ainda poderemos ter conta em bancos? Ser mulheres em relacionamentos homossexuais também será considerado uma violação à vida?
Essas são perguntas que mais tememos responder, justamente por estarem cada vez mais próximas da nossa realidade.
Mais de 34 mil crianças e adolescentes vivem em união conjugal. Entre as que têm 10 a 14 anos, em 8 a cada 10 casos as meninas estão em relações não oficializadas. E a pergunta é: se isso é crime, onde estão esses deputados nesses casos?
Estão votando para que uma criança violentada por seu genitor, por um parente ou até mesmo na escola dê à luz, tudo para que possam sustentar uma falsa realização de um sistema “pró-vida”.
Existem cerca de 9 mil crianças e adolescentes em situação de rua no Brasil, segundo dados recentes. Onde estão os “defensores da vida” quando se trata de garantir o direito dessas crianças a ter infância, educação, saúde básica e um lar digno?
Até onde iremos parar se continuarmos deixando que pessoas, armadas com sua moral cristã, nos defendam de um lugar que sequer ocupam?
E digo mais: muitas dessas pessoas cometem as mesmas violências que condenam. Não existe “clima” entre um velho e uma criança!
Trix
Membro e colunista do Instituto

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