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Tereza de Benguela, Jaqueline Goes e a potência estratégica da mulher negra brasileira!

Imagem criada com IA

Nós já conversamos sobre o Julho das Pretas em textos anteriores aqui do blog, e enfatizamos neles a importância de honrar a força que move e transforma o mundo a partir da potência intelectual e política das mulheres negras!

Como auge comemorativo, no dia 25 de julho, celebramos o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha (estabelecido em 1992 durante o 1º Encontro de Mulheres Afro-Latino-Americanas e Afro-Caribenhas, em Santo Domingo,  República Dominicana). Aqui no Brasil enaltecemos a data com o eco ancestral de uma mulher preta, quilombola, estrategista e líder do Quilombo do Quariterê (1750-1770) – por décadas uma das maiores comunidades negras que já existiu no Brasil -, a Rainha Tereza.

Em seu governo (1750-1770), Tereza instituiu um parlamento onde deputados e deputadas se reuniam semanalmente para decidirem juntos(as) as questões do quilombo – que abrigava, além de ex-escravizados(as) negros(as), pessoas indígenas que também conseguiam fugir da exploração escravista.

A Rainha presidiu toda a organização política, econômica e administrativa de forma coletiva, desenvolvendo forte sistema de defesa – com armas feitas através da fundição de objetos de ferro -, e trocas e comercialização dos alimentos excedentes – provenientes da agricultura interna policultora -, e de tecidos produzidos nos teares do próprio quilombo.

Assim, o Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra (demarcado a partir da atuação dos movimentos negros e da promulgação da Lei nº 12.987, de 2 de junho de 2014) registra a luta de uma mulher que desafiou as estruturas do colonialismo à sua época, foi reverenciada por onde passou, e deixou, ao lado de outras grandes líderes negras, um legado de inspiração para nós, suas descendentes.

É nesse contexto que, neste mês, reunimos homenagens a estas mulheres que fizeram e continuam fazendo história no contexto nacional. Em especial, neste breve diálogo, destacamos Jaqueline Goes, cientista negra que tem desafiado as estruturas do saber acadêmico e científico ao ocupar, com excelência, um lugar que historicamente nos foi negado.

Jaqueline é biomédica, doutora em Patologia Humana e um dos nomes centrais da ciência brasileira. Coordenadora da equipe que sequenciou o genoma do novo coronavírus em tempo recorde no Brasil, ela representa a quebra de paradigmas que associam ciência à branquitude, reafirmando que a intelectualidade negra está viva, pulsante e em pleno exercício de transformação social.

Assim como Petronilha Gonçalves, intelectual que defendeu o acesso das mulheres negras à educação, Jaqueline carrega em sua trajetória a marca da resistência ao silenciamento. Sua presença na ciência brasileira também dialoga com a luta de Beatriz Nascimento, que compreendia o corpo negro como território político e o quilombo como tecnologia de liberdade. Jaqueline faz ciência com afeto e compromisso ético, corporificando o conceito de escrevivência de Conceição Evaristo: sua história de vida é parte inseparável de sua produção de conhecimento.

Essa presença potente também ecoa as forças das Yabás, orixás femininas que ensinam sobre coragem, cuidado, justiça e sabedoria. Todas nós somos filhas dessas águas ancestrais, que conectam o saber ao sagrado. Assim como todas as mulheres negras em luta por reconhecimento social e acadêmico, ela enfrenta estruturas racistas e patriarcais com altivez, transformando sua atuação em inspiração coletiva.

Celebrar Jaqueline e Tereza no Julho das Pretas é reafirmar que ciência e política são potentes territórios de reexistência! Ao lado de tantas outras mulheres negras, elas abrem caminhos para que novas gerações ocupem espaços com dignidade e reconhecimento.

Seguimos escrevendo com nossos corpos e nossas vozes a história que o Brasil insiste em não reconhecer, mas que nossas ancestrais e antepassadas nos ensinaram a ecoar.

Que o Julho das Pretas seja um tempo de denúncia, mas também de celebração da beleza, da inteligência, da força e da potência que atravessam as vidas negras femininas em todo o mundo.

 
Por Viviane Alves
Colunista e membro do Instituto

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