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Vida, Morte e Legado de Elza Soares

Créditos: Foto de Marcos Hermes.

Elza Gomes da Conceição, este era o nome de batismo desta consagrada cantora brasileira aclamada, tanto pelo público brasileiro, quanto internacional. Detentora de vários prêmios, que superou e enfrentou o que muitos achariam impossível suportar. que, obrigada pelo pai, apenas com 13 anos de idade, ela se casou com um homem quase dez anos mais velho do que ela, depois de ter sofrido abuso sexual nas mãos deste homem. Na mente do seu pai, isso salvaria a honra da filha, mesmo ela sendo vítima de um abusador que se proclamava amigo da família.

Assim, Elza Gomes da Silva, passa a se chamar Elza Soares!

Sua história de vida não é diferente da vida de milhares de mulheres negras deste país, que sem merecer são marginalizadas pela sociedade.

Elza desde cedo teve que aprender que a carne mais barata do mercado é a carne negra, não porque queremos, ou porque nós achamos inferiores, mas sim, porque a sociedade preconceituosa nos colocou neste lugar. Entretanto, Elza Soares veio e nós mostrou que jamais poderíamos aceitar isso!

Com este homem ele teve seis filhos, dos quais um veio falecer de pneumonia. A família era muito pobre e com pouca instrução. Passavam fome, privação das necessidades básicas para qualquer ser humano viver com o mínimo de dignidade.

Após a morte desse filho, Elza começou a tomar consciência que somente ela poderia mudar o rumo de sua vida. Arrumou um emprego e foi a luta para conquistar o mínimo de dignidade para ela e seus filhos. Foi quando, um de seus filhos adoeceu que ela tomou a decisão que mudaria de vez a sua vida. Sem dinheiro suficiente para os medicamentos, Elsa se inscreveu em um concurso de calouros, contrariando sua família e marido, pois naquela época ser artista não era profissão, ainda mais para uma mulher negra vindo de periferia.

Mesmo contra tudo e todos ela mostrou ao mundo a sua bela voz. Mesmo sendo ridicularizada pela plateia e apresentador do programa, já que ela não tinha roupas adequadas para se apresentar, ela nem tinha noção do que era isto.

Ary Barroso, que caçoou de suas vestes pergunto “de que planeta ela veio”. Percebendo a chacota e os risos descontrolados da plateia, ela, firme como sempre, respondeu o seria que uma frase icônica de sua trajetória como cantora. “Eu vim do planeta fome”. E foi assim que nasceu a maior estrela da música popular brasileira.

Agora, me responda: quantas mulheres negras você conhece, que mesmo nos tempos atuais, passam por tudo isso?

Mesmo depois de mais de 50 anos de toda está história, que foi uma, de muitas na vida dessa mulher, esse tipo de coisa continua acontecendo sem que a sociedade tome conhecimento ou mesmo partido para mudar esta realidade.

Contudo, como uma mulher, e negra – como Elza Soares sempre teve orgulho de afirmar – , enfrentou esta e tantas outras adversidades da vida, após a separação deste homem que por muitos anos a só fez mal, ela conheceu o amor, para ela o amor verdadeiro e puro, mas também marcado por violência, abuso de álcool e tristeza e mesmo assim mas uma vez ela superou as dificuldades.

Elza, como tantas outras Elzas, Marias, Antônias, Claras, e Betanias, mães, mulheres, negras, casadas ou mãe solos, enfrentou com uma coragem – sem tamanho e sem precedentes – para proteger e lutar por aquilo que acreditam. Nenhuma de nós queremos ser mais ou melhor que ninguém, essa nunca foi a intenção, apenas queremos ter os mesmos diretos, os mesmos privilégios.

Poder escolher a carreira que quisermos, sem ter que sofrer o preconceito da cor da nossa pele, ou da textura do nosso cabelo.

Em pleno século XXI, poder entrar em uma loja e não ser seguida por seguranças, ou ter que suportar olhares tortos de vendedor, pois a pele negra, erroneamente, sempre está associada a pobreza ou de poucos recursos.

Elza, com sua história de vida e discografia, provou para quem quiser ouvir e ver que a carne negra nunca foi a mais barata, muito pelo contrário, eles reconhecem o seu valor e sabem que a cotação é alta e é em dólar, como canta Iza, jovem cantora da atualidade, que nos deu este novo refrão, seguindo o legado das mulheres negras que cantam e encantam e são exemplos de luta.

Por Ladylene Aparecida
Escritora e membro do Instituto 

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