Dia Mundial da África: qual é a relevância desta data para o povo preto?

Reprodução: David Malan/Getty Images

No próximo domingo, 25 de maio, comemora-se mundialmente o Dia da África, que outrora, já foi conhecido como Dia da Liberdade da África e Dia da Libertação da África. Nesta data, é celebrada a criação da Organização da Unidade Africana (OUA) –substituída, posteriormente, pela União Africana (UA). Para entender a motivação dessa solenidade, é necessário voltar à história que elucida os fundamentos utilizados por diversos países africanos na luta contra a colonização europeia.

A Organização da Unidade Africana (OUA) foi um organismo fundado em Adis Abeba, capital da Etiópia, por mais de 30 chefes de Estado de países africanos independentes. À época, parte do continente já havia conquistado uma certa independência, mas muitos países ainda viviam sob o regime colonial. No dia 25 de maio de 1963, cria-se, então, a OUA, que defendia a união de todos os países e povos africanos, a soberania e a integridade territorial do continente africano, além de buscar a erradicação total do colonialismo de África. Nessas circunstâncias, na luta pela liberdade, uma carta de princípios foi assinada pelos integrantes no dia 26 de maio de 1963, a fim de melhorar os padrões de vida entre os Estados-membros. A Organização da Unidade Africana teve como base a corrente teórica e ideológica do pan-africanismo que também defende a união integral dos povos africanos, independentemente de estes terem nascido no continente africano ou serem descendentes de indivíduos nascidos em outros continentes, contra os efeitos do colonialismo.

Mais tarde, em 1999, os chefes de Estado e líderes da OUA difundiram a Resolução de Sirte (ou Declaração de Sirte), que estabelecia a criação da União Africana (UA). A sucessora da Organização da Unidade Africana foi idealizada não somente com o objetivo de representar os 55 Estados-membros, mas de desempenhar um papel primordial na integração dos países em aspectos econômicos, políticos e sociais. A União Africana tem como visão central “Uma África Integrada, Próspera e Pacífica, impulsionada pelos seus próprios cidadãos e representando uma força dinâmica na arena global”. Esse conceito está vinculado à “Agenda 2063” que, por sua vez, é um documento que propõe um conjunto de desenvolvimentos socioeconômicos e sustentáveis em África ao longo de 50 anos.

A Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO) promove anualmente a “Semana da África”, reunindo todos os Estados-membros do continente africano para homenagear o Dia da África, celebrado a cada 25 de maio. A data foi estabelecida pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1973, motivada pela criação da OUA nesse mesmo dia. A temática escolhida para o evento deste ano foi “Solidarity for the Restitution and Restoration of African Heritage through Culture, Education and Sciences” (Solidariedade global para a restituição e restauração do patrimônio africano por meio da cultura, educação e ciências) e foi realizado entre os dias 19 e 21 de maio na sede da UNESCO, em Paris.

No Brasil, universidades como a Universidade da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira (UNILAB), a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e a Universidade Federal de Alfenas (UNIFAL) que promovem eventos voltados para o Dia da África. Nesses eventos ocorrem palestras, oficinas, cursos e outros tipos de atividades culturais referentes à rica e vasta cultura africana.

Segundo o Censo Demográfico de 2022, disponibilizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Pesquisa (IBGE), a porcentagem de pessoas negras no Brasil é equivalente a 55,4%, configurando mais da metade de uma população. Além disso, fora de África, o Brasil é o país com a maior população negra do mundo. Por conseguinte, vale destacar que a influência africana se faz presente em diversos aspectos da cultura brasileira. É, portanto, essencial que, enquanto população – sobretudo, a negra –, demos ao Dia da África a devida importância. Esta data nos convida não somente a celebrar, mas a debater e a refletir sobre o passado, o presente e o futuro dos nossos descendentes e ascendentes.