Para as gerações que cresceram, ainda crianças e adolescentes, ouvindo e assistindo às performances de Ney Matogrosso, ele já faz parte da nossa história e está enraizado em nossa alma. “Ney é o Ney!”
Para muitos dessa época, o artista sempre foi um símbolo de arte, cultura e resistência.
Em plena ditadura militar, época em que a masculinidade rígida e a defesa de tradições opressoras eram consideradas qualidades, o jovem Ney seguia na contramão de tudo isso. Sua alma artística, carisma e sensibilidade falavam mais alto, e seu “Sangue Latino” o levou por esse caminho — com muito orgulho — mesmo que isso o colocasse em confronto com as convicções de sua própria família.
E assim nasceu um dos maiores artistas da nossa geração…
Para saber mais sobre a trajetória desse artista incrível, basta assistir à cinebiografia disponível neste link: https://www.netflix.com/br/title/81754156
Mas a história de hoje é sobre um jovem nascido e criado nos redutos de Salvador — no coração que tentaram colonizar, mas que, com paixão e o sonho de liberdade, agora tem sua voz ouvida pelo mundo.
No Brasil nasceu a resistência, a cultura múltipla, multicultural… Somos mil vozes em uma só, mostrando não apenas nossa força, mas a fé de que podemos ser quem quisermos, onde quisermos – com todas as ressalvas e obstáculos que sabemos.
Naquela manhã, de mar batendo contra as rochas, Yago Savalla se preparava para mais um dia de atividade extracurricular — uma apresentação para conseguir aqueles pontos extras na escola (quem nunca?). O que ele não esperava era o quanto estava predestinado a carregar o coração, a paixão e a resistência de uma geração que veio antes dele — uma geração que lutou para que a sua pudesse se expressar, ser admirada e não criticada, nos fazendo refletir sobre onde está a nossa força, nossa fé, nossa paixão por nossa amada LIBERDADE.
Com sua coreografia própria e marcante, sensível o suficiente para arrepiar até os últimos pelos da nuca, ele fez com que até os olhos mais secos se alagassem em lágrimas — e o coração batesse no ritmo da música, no ritmo da sua performance.
Todavia, esse jovem não veio apenas reacender a chama das gerações passadas — ele também despertou a paixão nos corações mais jovens, mostrando que a alienação pode sim ser nocauteada, que nossa cultura pode ser celebrada de todas as formas e pode ser reescrita sem perder sua essência.
Com isso, convido todos que, como eu, cresceram ouvindo Ney Matogrosso, Elza Soares, Renato Russo, Cazuza e tantos outros que enfrentaram os dogmas da repressão, a fazerem com que nossas vozes sejam ouvidas.
Gritemos, então, até que não haja mais ar em nossos pulmões, e levemos nossos filhos e jovens a gritarem junto, em uma única voz:
SOMOS RESISTÊNCIA. SOMOS MUITOS. SOMOS UMA LEGIÃO. SOMOS MOLHADOS E SECOS.
Por Ladylene Aparecida
Colunista e membro do Instituto
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